O frasco de xampu

The Shampoo Bottle

Por: Diego Gomes

Minha história com a Nova Zelândia começou de maneira simples e despretensiosa, tão comum quanto um frasco de xampu. Desde criança, eu sempre fui fascinado pela língua inglesa. Lembro-me de assistir Friends e tentar memorizar e reproduzir os diálogos. Para alguém que cresceu em um contexto diferente, a minha trajetória pode parecer peculiar. No entanto, para muitas pessoas ao redor do mundo, aprender inglês é um desafio muito maior do que os habitantes de países de língua inglesa costumam imaginar.

Cresci em um bairro pobre, no interior do Brasil, onde as oportunidades eram limitadas. Não tive acesso a boas escolas de idiomas, além das aulas básicas de inglês oferecidas na escola pública. Durante minha adolescência, sonhava com a possibilidade de fazer um intercâmbio para aprender inglês, mas, para a realidade financeira da minha família, isso era algo distante, quase inatingível.

Eu me dedicava à leitura sobre a Inglaterra, assistia a produções culturais americanas e fui introduzido à Austrália através da banda Hillsong. Sabia da existência da Nova Zelândia, país vizinho à Austrália, por meio das aulas de geografia, nas quais sempre prestei atenção.

Comecei a trabalhar muito cedo, mas nunca consegui economizar o suficiente para um intercâmbio. Eu me virei como pude: assistindo séries, conversando com amigos e lendo livros em inglês. Mesmo com o inglês limitado, sempre que surgia uma oportunidade de conversar com estrangeiros, eu me lançava ao desafio.

Aos 32 anos, finalmente tive recursos para estudar na Inglaterra por um mês. Contudo, o ano era 2020, e a pandemia interrompeu nossos planos. As fronteiras foram fechadas, e meu sonho foi adiado mais uma vez.

Em 2024, depois de sete anos no ministério pastoral, decidi tirar um semestre sabático. Foi durante esse período que comecei a buscar uma escola de inglês para realizar o meu intercâmbio. A Inglaterra, que sempre foi o meu desejo, tinha um custo muito alto. As dificuldades para entrar nos Estados Unidos também eram grandes para latinos, e o Canadá, apesar de ser mais acessível, também exigia um investimento significativo.

Eu não queria que o dinheiro fosse o fator determinante sobre para onde eu iria; queria que fosse a fé. No entanto, o orçamento era limitado. Foi então que comecei a pesquisar sobre a África do Sul, que ouvi ser uma opção com ótimo custo-benefício para estudar inglês. Lá, encontrei escolas que se encaixavam na minha realidade financeira e ofereciam programas de três meses, que era o tempo que eu tinha disponível. Além disso, sempre sonhei em conhecer o continente africano, e a África do Sul me parecia um lugar fascinante.

À medida que o prazo se aproximava, continuei orando para que Deus abrisse as portas. Porém, o dinheiro não chegou a tempo, e eu perdi a vaga para a escola que queria na África do Sul. Fiquei devastado, mas mantive a fé. Sabia que era o tempo de fazer o intercâmbio e continuei orando.

Em julho de 2024, conheci uma escola em Auckland, na Nova Zelândia. O programa se encaixava perfeitamente no meu cronograma e o preço era acessível. Continuei orando, e Deus foi provendo os recursos, passo a passo. Tudo aconteceu na última hora: o passaporte, a passagem, o embarque. No final de agosto de 2024, eu estava em Auckland, estudando inglês.

Amei a Nova Zelândia desde o momento em que cheguei. Aos poucos, fui me encantando pelas belezas naturais, pela hospitalidade do povo e pela cultura única do país. Senti que minha estadia poderia ser mais longa do que eu imaginava, mas, em vez de me preocupar com o futuro, decidi focar no presente, me dedicando ao aprendizado do inglês e orando para que Deus me guiasse.

Enfrentei desafios diários, com horas e mais horas de aulas, deveres de casa intermináveis e atividades extracurriculares, como evangelismo, reuniões de oração, pregações e testemunhos. Às vezes, sentia medo ou vergonha, mas sempre aproveitava as oportunidades para conversar e me expor ao idioma, praticando o máximo que eu podia.

Muitos dos meus colegas de classe estavam se inscrevendo para vistos, buscando empregos e planejando um futuro na Nova Zelândia. Eu, por outro lado, sabia que não teria mais recursos para prolongar minha estadia, nem imaginava que seria possível exercer minha vocação pastoral no país. Mas continuei orando sobre isso.

No final de outubro de 2024, soube de uma vaga em uma organização missionária que procurava um diretor. Eu atendia a todos os requisitos e fiquei encantado com a missão da organização, que parecia um lugar incrível para trabalhar e aprender. Com a ajuda de um amigo, preparei meu currículo e me inscrevi. Na mesma época, também coloquei meu currículo em um site de busca de empregos, mesmo sabendo que as vagas pastorais exigiam residência ou visto. Ainda assim, deixei meu currículo registrado por fé.

Após um mês de entrevistas e trocas de e-mails, recebi a notícia de que, embora estivesse na “shortlist” de candidatos, a vaga havia sido oferecida a outra pessoa. Fiquei triste, mas aceitei que seria hora de retornar ao Brasil, provavelmente para nunca mais voltar à Nova Zelândia. Na última semana do meu intercâmbio, juntei meus poucos dólares restantes para comprar presentes para a minha família, mas decidi reservar uma quantia para comprar um frasco de xampu que havia encontrado na Nova Zelândia e que havia feito maravilhas no meu cabelo. Quando fui ao mercado, pensei em pegar a embalagem menor, mas uma voz interior me disse: “Leve o frasco maior, ele será o suficiente até você voltar à Nova Zelândia”. 

Naquele momento, pensei que poderia ser o Espírito Santo me orientando. Por isso, obedeci e comprei o frasco maior, mesmo sabendo que isso significava gastar mais do que eu planejava. Evitei, porém, alimentar expectativas e deixei de pensar no assunto. Voltei para o Brasil, passei meu aniversário, Natal e Ano Novo com a família. No início de janeiro, recebi dois convites de igrejas da Nova Zelândia, convidando-me a iniciar um processo de avaliação para uma possível contratação.

Essa parte da história é longa e digna de um capítulo à parte. Mas, após mais de dois meses de reuniões, entrevistas e testes, fui contratado para servir como pastor na Nova Zelândia. Meu visto de trabalhador religioso foi aprovado, e estou prestes a embarcar para essa nova aventura.

Quando recebi o e-mail confirmando o meu visto, fui tomar um banho e, ao olhar para os produtos na bancada do banheiro, vi o frasco de xampu. Aquele simples frasco me lembrou do cuidado de Deus, que veste os lírios do campo, alimenta as aves do céu e cuida de seus filhos com uma presença amorosa e constante. Ainda tenho o suficiente para mais duas semanas de uso, e logo estarei de volta à Nova Zelândia. Esse momento tão simples, com algo tão comum quanto um frasco de xampu, me fez perceber a fidelidade de Deus, que não apenas me guia, mas também cuida de cada detalhe da minha jornada.

About Diego

Born in Brazil in 1988, I grew up in a poor neighborhood where life was anything but easy. My childhood was marked by challenges —racism, violence, and abuse— but I found refuge in books, sports, and the arts.

At thirteen, my life took a turning point when I encountered God in a profound way. That moment changed everything, setting me on a path of faith, purpose, and hope. Since that day I know and believe that hope is a person, and his name is Jesus.