Entre o Preto, o Branco e o Sangue: A Cruz como Resposta à Era da Superficialidade

Por: Diego Gomes

Como seres humanos, muitas vezes temos a tendência de querer definir as coisas como “preto ou branco”. Isso significa que naturalmente procuramos um padrão lógico por trás dos eventos da vida, o que pode ser frustrante, pois a vida, em muitos momentos, não é lógica – e, em tantos outros, simplesmente não faz sentido.

O fato é que frequentemente tentamos fugir da “área cinza”, das nuances da existência, porque desejamos a simplicidade das “certezas absolutas”, algo mais fácil de compreender. Evitamos lidar com diferentes ângulos de uma mesma situação, pois não queremos nos sentir confusos. No entanto, ao descascar as camadas da realidade, muitas vezes somos compelidos a enxergar uma verdade mais complexa por trás das imagens, fachadas e aparências.

Algumas personalidades – acredito que sejam exceções em meio à maioria – têm a tendência de enxergar além da superfície, buscando analisar a profundidade e a complexidade da vida humana. Como alguém que é assim – o tempo todo! – posso atestar que pensar e viver dessa forma é, por vezes, exaustivo. Para ser honesto, em tempos tão complexos ao redor do mundo, às vezes tudo que eu queria era ser um pouco alienado ou confortado pela aparente certeza de que tudo vai ficar bem, sem precisar me envolver ou assumir responsabilidades.

Afinal, não é justamente a nossa falta de vontade de assumir responsabilidades que, muitas vezes, é a “tinta” que pinta nossas fachadas de “certezas”? Ora escondendo nossa ignorância, ora disfarçando uma religiosidade superficial. Por trás de uma fé inquestionável, muitas vezes existe apenas um túmulo de religiosidade vazia, coberto por uma camada de tinta branca cuidadosamente aplicada.

Nossa crescente dificuldade, como sociedade, de tolerar pensamentos contrários e o aumento agressivo do desrespeito pelas divergências estão nos tornando cada vez mais intolerantes. A semente do ódio germina com facilidade no solo da ignorância. Estamos mais agressivos uns com os outros, mais apressados em chegar a vereditos e certezas rápidas – ao custo de inúmeras pessoas “canceladas” e vidas destruídas como efeito colateral de uma cultura superficial.

Vivemos um momento complexo no mundo. A geopolítica desastrosa ameaça a estabilidade da democracia em algumas das nações mais poderosas da Terra. As crises ambientais e climáticas desenham um cenário cada vez mais trágico para a já frágil vida humana no planeta. Guerras e rumores de guerras não são mais um fantasma do passado, mas uma entidade presente e um agouro que se insinua no horizonte.

É como se estivéssemos no epicentro de uma tempestade silenciosa, onde o caos se disfarça de rotina e o absurdo se normaliza dia após dia.

Em um cenário tão complexo, não podemos nos tornar uma igreja complacente e – muitas vezes – irrelevante, escondida atrás de uma fachada de “espiritualidade” que nada mais é do que escapismo. Há uma diferença clara que precisa ser traçada entre a esperança na eternidade e a apatia diante da realidade do tempo em que Deus posicionou nossas vidas.

No livro bíblico de Ester, seu tio Mordecai – uma espécie de mentor em sua jornada – diz uma das frases mais poderosas das Escrituras, a minha favorita sobre propósito: “Pois, se você ficar calada nesta hora, socorro e livramento surgirão de outra parte para os judeus, mas você e a família de seu pai morrerão. Quem sabe se não foi para um momento como este que você chegou à posição de rainha?” (Ester 4:14).

Ester certamente enfrentou grandes desafios – como nós também enfrentamos os nossos. Na vida cristã, sempre existirão gigantes, sempre existirão os que se escondem com medo. Mas também sempre haverá homens e mulheres comuns, dispostos a oferecer suas pedrinhas nas mãos de um Deus poderoso, para serem instrumentos em tempos difíceis da humanidade.

Comecei este texto falando sobre nuances, porque observo que estamos perdendo a capacidade de responder à complexidade da vida. Nem cheguei aos quarenta anos, mas lembro-me de um tempo em que as pessoas liam jornais e assistiam noticiários, quando eu me sentava à mesa dos adultos e ouvia conversas que iam da cultura pop à economia global, em um fluir natural e enriquecedor.

Hoje, vivemos a cultura das redes sociais, com informações disponíveis em tempo real na palma das mãos. Porém, junto com essa facilidade, talvez tenha vindo a indolência. Já não queremos mais ler mais que um parágrafo, assistir a mais de um minuto de vídeo ou checar fatos. Já percebeu o quanto os cristãos são responsáveis por espalhar “fake news” pelas redes? – muitas vezes elegendo até governantes por causa delas.

Nosso rolar frenético pelos feeds esconde uma ansiedade generalizada, que tem nos levado a uma alienação coletiva. Ainda me lembro do início dos anos 2000, quando me converti (ainda nos primórdios da era digital), e os cristãos da igreja presbiteriana que eu frequentava eram ensinados pelo pastor a começarem suas manhãs com a Bíblia em uma mão e o jornal na outra.

A Palavra de Deus é atual desde sempre. Ela sempre terá respostas mais eficazes que o jornal mais acurado, pois seu poder não é apenas informativo, mas transformador. Na era das opiniões, a minha e a sua não importam tanto quanto nossa arrogância quer nos fazer crer. A opinião de Deus é a única capaz de confrontar as mentiras do século XXI, expor as agendas ideológicas por trás da cultura e transformar a sociedade que somos hoje. Mais do que isso: a Palavra de Deus é a única capaz de realmente transformar a vida humana.

Você já parou para pensar na urgência da nossa missão? Em um mundo afundado em más notícias, somos o único povo portador de uma verdadeira Boa Notícia – aquela que pode soprar esperança no coração mais abatido, reavivar a fé do mais desacreditado, inundar de luz o mais perdido em trevas, compartilhar graça com o mais necessitado e preencher de amor o mais vazio.

Essas coisas das quais a humanidade tanto precisa não são sentimentos gerados pelas redes sociais, nem experiências compradas. Esperança, fé, luz, graça e amor não são sentimentos ou bens de consumo – são uma pessoa: JESUS.

Temos a única notícia capaz de mudar o mundo: por causa de Jesus, temos paz com Deus. Nosso passado não precisa nos definir. Por causa da cruz, temos acesso ao perdão dos pecados – e mais: temos acesso a uma nova vida! O mesmo Espírito que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em nós e pode fazer tudo novo. Não há limites para o poder redentor da cruz.

Em uma sociedade fraturada pelo ódio, somos portadores do ministério da reconciliação. Podemos levar a verdadeira paz às nações – não a “paz mundial” fictícia da propaganda humanista, dependente de acordos políticos, mas a paz eterna com Deus: a paz de uma consciência perdoada, a paz de viver uma vida transformada.

O mundo jaz no maligno e, talvez, estejamos vivendo a era de maiores trevas – um tempo em que temos tanta informação, mas nos sentimos perdidos. É exatamente agora que precisamos brilhar a luz de Cristo através de um viver transformado. Talvez não tenhamos influência para pautar notícias globais ou mover multidões, mas podemos “salgar” as conversas das quais participamos com o tempero da Palavra de Deus.

Podemos influenciar quem está ao nosso redor, apresentando Jesus não como uma figura histórica distante, mas como um amigo íntimo, sobre quem não conseguimos deixar de falar. Um amigo que muitos dos nossos conhecidos nem sabem, mas de quem desesperadamente precisam.

Não permita que as vozes desta era confundam você sobre sua única missão como cristão: amar e servir a Deus como a um amigo íntimo, e amar e servir as pessoas, pregando o evangelho e fazendo discípulos.

Comecei este texto relutante, conflitado pelas dúvidas de um coração que reflete nas nuances do século multicolorido em que vivemos – mas com uma humanidade que parece enxergar apenas em preto e branco. Enquanto escrevia, as palavras começaram a ganhar um tom que talvez se possa chamar de “vermelho urgente”.

Vermelho do sangue vertido na cruz, que dá sentido à nossa própria existência – e deveria dar sentido às nossas congregações e atividades “religiosas”.
Vermelho do fogo que precisa reacender a chama da missão em nossos corações.
Vermelho como o sinal de pare: é tempo de reavaliar a forma como estamos vivendo nesta sociedade.

Encerro com uma pergunta: em uma era de tantas nuances e contrastes, qual é a história que a imagem da sua vida está contando?
Se a resposta não for a cruz de Cristo, talvez esteja na hora de começarmos de novo.

About Diego

Born in Brazil in 1988, I grew up in a poor neighborhood where life was anything but easy. My childhood was marked by challenges —racism, violence, and abuse— but I found refuge in books, sports, and the arts.

At thirteen, my life took a turning point when I encountered God in a profound way. That moment changed everything, setting me on a path of faith, purpose, and hope. Since that day I know and believe that hope is a person, and his name is Jesus.