Por: Diego Gomes
“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.” — Mateus 5:4.
A segunda bem-aventurança de Jesus parece uma contradição. Chorar? E ser feliz por isso? Mas, esse choro proposto por Jesus não é um choro qualquer. A palavra usada por Ele no original carrega o peso de uma dor mais profunda: lamento, sofrimento intenso, tristeza de quem vive um luto.
É o choro de quem sente falta de algo — ou melhor, de alguém. É o pranto da Noiva pela ausência do Noivo e a saudade do céu sendo elaborada em forma de lágrimas.
Essa palavra, lágrimas, assusta algumas personalidades. Chorar é permitir-se estar no estado humano mais vulnerável, talvez as lágrimas sejam a nossa nudez emocional. Contudo, Jesus não está falando de um sentimentalismo raso, mas de um estado do coração, um posicionamento diante da vida.
Aqueles que lamentam, nem sempre terão lágrimas físicas, mas em seu coração estarão posicionados como amigos do Senhor, para chorarem pelo que Ele chora e compadecerem-se o mundo com um coração semelhante ao dele. Aqueles que, mesmo em terra estrangeira, clamam pela eternidade:
“Como podem os convidados do noivo ficar de luto enquanto o noivo está com eles? Virão dias quando o noivo lhes será tirado; então jejuarão” (Mateus 9:15).
E esses dias chegaram! Jesus não está mais fisicamente aqui e, embora vivamos na importante era da Igreja, tempo esse em que temos a missão de preparar a noiva e o caminho para a segunda vinda de Jesus, ainda estamos em um mundo que jaz no maligno, combatendo as trevas com armas espirituais.
É natural – e saudável – que guerreiros chorem em meio a uma guerra. É o pranto da saudade da pátria, a dor das feridas das batalhas e o horror diante da crueldade do mundo. Nós, enquanto estamos aqui na terra, somos peregrinos. Não devemos viver com o desejo de escapar da vida na terra, mas precisamos cultivar o anseio pela eternidade.
Somos bem-aventurados quando choramos — não porque Deus se alegra com o nosso sofrimento, mas porque esse tipo de choro nos posiciona diante dele com quebrantamento e esperança. Não há momento em que o colo de um Pai tenha mais significado para um filho do que na hora das lágrimas.
Jesus nos alertou: neste mundo teríamos aflições. O apóstolo Paulo nos mostrou como passar por elas com propósito. Ele apanhou, foi traído, naufragou, passou fome e frio, mas tudo isso o moldou à imagem de Cristo. Em Romanos 8:17-18, ele nos lembra: “Se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória… os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada.”
A dor pode nos deformar ou nos transformar. Tudo depende de quem está moldando nosso coração durante o processo!
A Bíblia está cheia de lágrimas. E Deus nunca desperdiça uma. Jesus chorou, com Maria, diante da perda de Lázaro (João 11). Chorou por Jerusalém, ao ver sua incredulidade (Lucas 19).
Ele sabe o que é sentir. E mais do que isso: Ele prometeu consolo! Sim, os que choram serão consolados. Não por promessas vazias, mas pela presença real do Espírito Santo, o Consolador prometido que habita em nós:
“E eu pedirei ao pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê e nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês.” João 14:16-17.
Jesus enxuga nossas lágrimas agora por meio do Espírito Santo, e um dia as enxugará para sempre: “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou.” Apocalipse 21:4.
Embora o lamento espiritual muitas vezes seja uma resposta natural gerada pelo Espírito Santo no nosso interior, aquele que intercede em nós até mesmo com gemidos inexprimíveis (Romanos 8:26-27). Nós podemos – e devemos – aprender a cultivar o lamento espiritual como uma disciplina espiritual.
“Chorar por quê?” Talvez você esteja se perguntando. Primeiro por nós mesmos — quando reconhecemos o nosso pecado, como Isaías: “Ai de mim! Estou perdido…” (Isaías 6:5). Esse é o choro do arrependimento.
Depois, chorar pelos outros — quando intercedemos nos colocando no lugar do outro, elevando-o a Deus em nossas orações. Esse é o choro da compaixão, exemplificado de forma profunda e bela pelo Papa Franscisco durante a pandemia do Covid 19, quando sozinho naquela praça, orou pela humanidade com compaixão e lágrimas.
Em ambos os casos, há consolo. O consolo da graça que perdoa, transforma, salva e restaura.
Quero te propor uma reflexão: você tem chorado? Se sim, que tipo de choro tem sido o seu? O choro ocasional e sobrecarregado, das dores e durezas que a vida nos inflige? O choro intencional, daqueles que como filhos confiantes no amor do Pai, levam suas lágrimas em forma de oração diante do trono da graça.
Há um tipo de choro que nos leva ao desespero. Mas há outro que nos leva à esperança — e esse é o que Jesus chama de bem-aventurado.
Oração de hoje:
Senhor, ensina-me a chorar pelos motivos certos. Dá-me um coração sensível ao Teu Espírito, que não se acomoda neste mundo nem endurece diante da dor. Que eu chore, sim — mas que minhas lágrimas preparem o solo para a alegria eterna. Amém.