A fé missional: os próximos passos depois de receber

Eu ainda me lembro da minha primeira experiência real com o ambiente de uma igreja. Quando criança, havia frequentado alguns cultos de domingo da Igreja Assembleia de Deus no Brasil, levado pelo meu avô ou por alguns tios. Também me recordo de ter ido, ocasionalmente, a missas da Igreja Católica, sempre acompanhado por algum familiar.

 

Então, no dia 10 de outubro de 2002, eu, ainda adolescente, entrei em uma igreja presbiteriana — pela primeira vez, por decisão própria. Os eventos que me levaram a escolher aquele culto são assunto para outro texto, mas lá estava eu, com o coração aberto — e, na verdade, desesperado por uma resposta.

 

Até aquele dia, nos ambientes de igreja, eu me sentia fascinado por algumas coisas e assustado por outras. Por um lado, admirava a beleza estética da Igreja Católica; por outro, me sentia distante devido aos ritos e aos sermões litúrgicos. Eu me conectava com certas pregações pentecostais — fervorosas, pessoais e relacionáveis —, mas também me sentia intimidado pelo excesso de barulho e expressões intensas.

 

O ponto central é que eu sempre me interessei pela pessoa de Jesus e tinha uma fome genuína de conhecer mais sobre Deus. Quando entrei naquele templo presbiteriano, em uma quinta-feira à noite, para um culto de avivamento, eu estava pronto para ser encontrado por Cristo.

 

Geralmente, temos a tendência de acreditar que escolhemos Jesus e decidimos ter fé. Embora o elemento da nossa vontade esteja envolvido, o despertar da fé é, na verdade, uma obra contínua do Espírito Santo — até que estejamos prontos para acreditar que fomos nós quem tomamos a decisão.

 

Jesus foi claro no sermão da videira, ao afirmar que não fomos nós que o escolhemos, mas Ele que nos escolheu. Por muitos anos, pessoas intercederam pela minha salvação e plantaram sementes do evangelho, até que naquele dia — em meio à minha angústia — fui convidado para um culto, e foi ali, em uma reunião de igreja, que Jesus se revelou a mim.

 

A música congregacional teve um impacto imenso na minha experiência de fé — e ainda tem, até hoje. Há algo em cantar a nossa fé que movimenta as engrenagens do coração, gerando senso de pertencimento e confiança crescente. As orações vivas e espontâneas daquela reunião — que não pareciam fórmulas repetidas, mas um diálogo real — chamaram imediatamente minha atenção: aquelas pessoas pareciam conhecer Deus de perto. Eu também queria aquilo.

 

O sermão naquela noite foi sobre Jesus caminhando com os dois discípulos a caminho de Emaús. O pregador enfatizou que, enquanto Jesus falava, os corações deles ardiam. E o meu coração não parava de queimar, confirmando que era Jesus, e não o pregador, quem falava comigo. Quando o apelo ao altar foi feito, eu imediatamente respondi, levantando as mãos e convidando Jesus a entrar em meu coração. Foi como lançar uma isca diretamente na boca de um peixe — impossível não corresponder àquela mensagem clara, que me oferecia um futuro e uma esperança.

 

Meu testemunho é do tipo em que Jesus transformou minha vida imediatamente, e a fé se tornou uma semente explosiva de mudança interior. Sei que nem sempre é assim; muitas pessoas passam por um longo processo de conversão após serem salvas. No meu caso, naquela mesma noite, fui tomado por um amor indescritível e por uma urgência de compartilhar a mensagem que havia transformado a minha vida.

 

Sem ter recebido nenhuma aula bíblica, sem aconselhamento ou discipulado, em uma única noite, entendi que eu tinha uma missão. Não foi um ponto do eloquente sermão do maravilhoso pastor presbiteriano chamado Tom — foi uma obra real e efusiva do Espírito Santo em meu interior.

 

Nos meses seguintes, experimentei a realidade do batismo com o Espírito Santo enquanto orava sozinho. Ninguém me explicou o que estava acontecendo, mas eu compreendia tudo dentro de mim. Minha razão parecia ser “explodida” pelo céu invadindo a terra em minha vida. Vi uma coragem desconhecida se tornar parte da minha personalidade, impulsionando-me a evangelizar.

 

Lembro-me de sentir uma fome física me levando à oração. Passei a frequentar todos os cultos disponíveis naquela igreja, além das reuniões e vigílias de oração. Os adultos se maravilhavam e me encorajavam. Anciãos oravam por mim e me abençoavam com palavras, caronas e até ofertas para acampamentos. O senso de comunidade e de família na fé me fazia não querer sair da igreja nunca.

 

Alguns meses depois da minha conversão, com apenas 14 anos, comecei a pregar nos intervalos das aulas para outros estudantes. Aquela ação atraiu outros jovens cristãos e se tornou um pequeno grupo de estudos bíblicos, culminando em um grande evento evangelístico no final do ano letivo. Combinando música, artes e adolescentes apaixonados por pregar, alcançamos toda a comunidade ao redor da escola e da universidade adjacente, com centenas de pessoas participando do nosso evento interdenominacional.

 

Hoje, tenho plena consciência de que minha salvação não aconteceu por causa da igreja presbiteriana que comecei a frequentar. Embora, na minha adolescência idealista e inocente, eu não percebesse, havia falhas ali. No entanto, apesar dos problemas humanos — presentes em todas as igrejas — a obra do Espírito Santo foi vibrante o suficiente para me alcançar e moldar.

 

Ao compartilhar minha experiência com diferentes tradições cristãs, meu objetivo não é desmerecer nenhuma nem exaltar outras. Quero apenas reforçar a verdade de que, como Igreja de Cristo na terra (a Igreja com “I” maiúsculo), somos um grande corpo com diferentes expressões, chamados para uma única e bela missão. Todas as denominações e instituições possuem problemas e virtudes, mazelas e belezas.

 

Sou um produto direto da fé católica brasileira, que encontrou renovação no pentecostalismo — movimento que expandiu o evangelho nacionalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil. Contudo, foi em uma igreja presbiteriana, com teologia renovada e em pleno avivamento, que o Senhor escolheu me alcançar. Era uma comunidade carismática que fluía nos dons do Espírito Santo.

 

Há muitos frutos em minha vida atribuídos ao investimento daquela igreja nos meus primeiros passos na fé. O mais evidente foi a sabedoria de não desprezar ou podar o potencial ministerial de um jovem, mas empoderar-me para trilhar o caminho da obra de Deus. Houve um profundo depósito de tesouros bíblicos nos meus primeiros anos, especialmente através do casal de pastores Cláudio e Alaid Schmidt, que me ensinaram muito sobre a Palavra de Deus e modelaram, com suas vidas, zelo e fome pelas Escrituras.

 

Entretanto, o maior tesouro que aprendi e que nunca me deixou é que a igreja é um lugar para dar, não para receber. Eu via ao meu redor pessoas mais velhas, com problemas reais e agendas cheias, mas famintas por Deus. O maior impacto daquela comunidade em mim foi testemunhar que seguir a Cristo significava renunciar ao conforto e responder às necessidades da comunidade e à missão.

 

Ninguém precisou me convidar para uma aula especial sobre serviço, embora o ensino existisse. Para aquele adolescente de treze, quatorze anos, testemunhar homens e mulheres abrindo mão do tempo com a família ou de oportunidades profissionais apenas para servir na igreja foi uma lição clara de que o cristianismo envolve todas as fases da vida.

 

Lembro-me de ouvir, em uma das minhas primeiras escolas dominicais, que Deus não precisava de mim para nada, mas havia me escolhido como parceiro no Seu Reino. Em poucos meses, entendi que era um discípulo e que existia uma missão: pregar o evangelho a todas as nações, formando outros discípulos — e que, de alguma forma, eu fazia parte disso, simplesmente por ser cristão.

 

Cada vez que eu ia à igreja, era servido, alimentado, cheio e empoderado. Mas tudo isso acontecia para que eu pudesse cumprir a missão. Portanto, igreja era um lugar para doar. Sim, eu também recebia — mas isso jamais deveria ser minha motivação, se eu quisesse amadurecer na fé. Depois que você receber é hora de continuar o ciclo do amadurecimento cristão, aprendendo a doar e servir, a continuar a missão.

 

Jamais poderei ser grato o suficiente por como aquelas pessoas ajudaram a moldar em mim uma fé ativa e engajada. Creio que o céu as recompensará, e que qualquer fruto que eu venha a gerar será contado como galardão para elas.

 

Eu poderia escrever mil textos aprofundando os conceitos compartilhados aqui, mas, por hoje, encerro com uma simples pergunta — e com ela, desejo provocar uma reflexão:

 

Se a definição de uma fé madura fosse o simples entendimento de que fé é sobre dar, e não sobre receber, a sua fé poderia ser considerada madura?

 

Pense nisso.

 

Até o próximo texto.

 

 

About Diego

Born in Brazil in 1988, I grew up in a poor neighborhood where life was anything but easy. My childhood was marked by challenges —racism, violence, and abuse— but I found refuge in books, sports, and the arts.

At thirteen, my life took a turning point when I encountered God in a profound way. That moment changed everything, setting me on a path of faith, purpose, and hope. Since that day I know and believe that hope is a person, and his name is Jesus.