A fragrância oculta

O mês de maio foi uma aventura para mim em relação à logística e à rotina. Eu havia acabado de completar um mês vivendo em Napier, período em que mal tive tempo de recuperar meu sono, me adaptar ao novo fuso horário e estabelecer uma rotina produtiva de trabalho, quando comecei uma jornada de viagens — e uma mudança!

Poucos dias após aterrissar na bela região de Hawke’s Bay, minha igreja local, na qual atuo como pastor, me hospedou em uma casa de temporada até que um lugar permanente estivesse disponível.

A propriedade aconchegante está situada de frente para uma das praias de Napier, o que me proporcionou a alegria diária de tomar café da manhã no solário, contemplando o sol nascendo por detrás do oceano, encerrar minhas tardes caminhando pela orla e tomar uma taça de vinho aos sábados à noite, ouvindo o barulho das ondas e sentindo a brisa do mar.

Quando eu era mais jovem, para ser honesto, detestava rotina. Além de me sentir entediado, parecia que me comprometer com um mesmo cronograma e uma agenda fixa limitava minha “liberdade criativa”. Ah, a juventude e seus devaneios…

O fato é que, após completar trinta anos, passei a apreciar a rotina, a amar estar em casa e a perceber que preciso de continuidade para manter meu bem-estar mental e emocional. Uma parte fundamental da minha adaptação rápida a essa nova nação, novo idioma e nova cultura foi ter um lar para onde voltar todos os dias. Minha casa na praia se tornou meu oásis particular, onde eu podia aliviar a pressão da vida como imigrante, pensar novamente na minha língua materna e descansar.

No dia em que fui viajar, precisei desocupar a casa onde estava hospedado, pois, durante minha ausência, ela receberia hóspedes. Tive que fazer as malas com todas as minhas roupas, esvaziar a geladeira e recolher todos os elementos de decoração que havia espalhado pela casa para tornar o aluguel temporário em um verdadeiro lar.

Coloquei minhas malas no carro, que ficou estacionado no pátio da igreja como meu “depósito temporário” enquanto eu viajava. No entanto, os meus quadros e itens decorativos escondi dentro de um armário da propriedade, para buscar quando retornasse. Deixei duas velas perfumadas como cortesia para os novos hóspedes, mas um aromatizador com essência de alecrim — presente de uma amiga no Brasil — eu escondi no armário secreto.

A viagem foi muito produtiva, mas falarei mais sobre ela no próximo texto. Passei por Tauranga, onde tive um tempo especial com outros líderes da igreja na Nova Zelândia. Fui a Auckland, onde pude matar um pouco da saudade daquela que foi minha primeira casa no país, no ano passado.

Depois, viajei para Sydney, onde conheci a Austrália pela primeira vez e participei de uma conferência de adoração. Lá, conheci lendas como Darlene Zschech, Ben Fielding e Matt Redman, e aprendi mais sobre composição musical e a teologia da adoração. Por fim, visitei a igreja Hope UC, na costa central da Austrália, liderada por Darlene e seu esposo Mark — realizando assim um sonho antigo.

Depois dessa maratona de deslocamentos, fusos e alimentação desregulada, voltei a Napier. Quando retornei à antiga casa para buscar os itens restantes, fui surpreendido ao abrir o armário onde havia escondido minhas coisas.

A fragrância do aromatizador, confinada por dias, invadiu minhas narinas assim que abri a porta. Nunca eu havia sentido um aroma tão concentrado — e tão agradável — em toda a minha vida.

Naquele momento, o Espírito Santo me lembrou de um trecho do Sermão da Montanha:

“… Entretanto, quando você cuidar dos necessitados, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a mão direita, de forma que você preste ajuda em secreto. E o seu Pai, que vê o que é feito em secreto, o recompensará… Mas, quando você orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que está em secreto. Então, o seu Pai, que vê em secreto, o recompensará… para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.” (Mateus 6:3-4, 6, 18).

Por três vezes, dentro de seu sermão mais importante, Jesus fez uma promessa sobre um tipo de recompensa divina que está disponível para ser acessada e desfrutada. Essa recompensa está condicionada à motivação de agradar o coração de Deus, com uma postura interior voltada para a audiência do olhar do Pai celestial.

Não se engane: Jesus não estava apenas dando um conselho ou fazendo uma promessa vaga. O que Ele ensinava no Sermão da Montanha era nitroglicerina pura — capaz de explodir a ordem antiga, sacudir a sociedade, confundir o status quo e, principalmente, expor o pecado original de nossos corações.

Desde o Éden, lidamos com o desejo humano por controle. Quando Adão e Eva comeram do fruto da árvore do conhecimento, fizeram uma escolha deliberada: desconfiaram do caráter de Deus e assumiram o controle de suas próprias decisões. Essa “independência” levou à morte, mas também nos condenou a um coração caído que anseia por controle, reconhecimento e validação externa constante.

Jesus, em sua pregação, estava confrontando a matéria-prima da qual somos feitos: nosso ego e sua necessidade interminável de aprovação. Estava desmascarando nossa religiosidade: fazemos boas ações “para a glória de Deus”, quando, na verdade, buscamos glória para nós mesmos — e recompensas para nossa reputação.

Mas Jesus também propõe um estilo de vida diferente: um caminho no qual educamos o ego a buscar o segundo plano. Um estilo de vida em que o que fazemos não visa o aplauso dos homens, mas é direcionado ao olhar do Pai. Escolhemos, intencionalmente, trocar o reconhecimento humano pela recompensa divina.

Mais de dois mil anos depois, a mensagem de Jesus permanece tão atual quanto no dia em que foi proferida. Mudam-se os séculos, as culturas, as tecnologias — mas, quando se trata da natureza humana, “não há nada novo debaixo do sol”. Todavia, existe uma promessa que ainda está de pé: uma recompensa divina reservada àqueles que vivem com o objetivo de agradar o coração do Pai. “Qual é essa recompensa?”, você pode estar se perguntando.

Teologicamente, acredito que ela se refere aos galardões eternos — a recompensa divina pelas nossas renúncias e obediência. Contudo, ao analisar o Sermão da Montanha como um todo, percebo que a recompensa de viver uma vida “em secreto” é nos tornarmos mais parecidos com Jesus.

Quando vivemos as bem-aventuranças e adotamos esse estilo de vida centrado no Pai, tornamo-nos sal da terra e luz do mundo. Ao escolhermos a vida em secreto, a fragrância de Cristo é formada em nosso interior. E à medida que somos enraizados e alicerçados em amor, desenvolvemos um caráter que glorifica a Jesus de forma natural.

Assim como a essência escondida no armário foi liberada ao abrir a porta, o caráter de Cristo, forjado em nosso íntimo, será revelado na convivência comum, nas tarefas do dia a dia, e impactará todos ao nosso redor.

Quanto a mim, hoje finalmente deixei toda a mudança na minha nova casa e estou animado para decorá-la, estabelecer uma nova rotina e colocar meu difusor com essência de alecrim na sala de estar.
Até o próximo texto.

About Diego

Born in Brazil in 1988, I grew up in a poor neighborhood where life was anything but easy. My childhood was marked by challenges —racism, violence, and abuse— but I found refuge in books, sports, and the arts.

At thirteen, my life took a turning point when I encountered God in a profound way. That moment changed everything, setting me on a path of faith, purpose, and hope. Since that day I know and believe that hope is a person, and his name is Jesus.